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PARK
WAY Cidades - Moradores contra loteamento
Ana Júlia Pinheiro Da equipe do Correio
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Moradores
do Park Way unidos contra o aproveitamento
de áreas de proteção ambiental como lotes
Anderson Schneider |
A
Associação dos moradores do Park Way está mobilizada para
evitar que o governo local transforme áreas voltadas à
preservação ambiental em 1.600 lotes residenciais, com
base apenas em um Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima).
Esta semana, eles continuarão visitando deputados distritais
e vão partir para buscar apoio junto ao governo federal. |
O
parcelamento faz parte do projeto de lei complementar 451/99,
encaminhado pelo governador Joaquim Roriz à Câmara Legislativa
em dezembro. Marcada para terça-feira da semana passada, a votação
foi adiada a pedido do GDF pelo deputado que articula o processo,
Jorge Cauhy (PMDB).
No final da tarde de sábado, os moradores se reuniram na quadra
7, na Mansão dos Arcos, para organizar novas estratégias. ''A
espada ainda está sob nossas cabeças'', alertou o engenheiro
Wandyr Ferreira, presidente da associação. Com base no preço
do metro quadrado no Park Way, o grupo estima que o governo
pode levantar de R$ 128 milhões a R$ 200 milhões com a venda
dos lotes.
A reunião começou com a exibição de uma entrevista da secretária
de Habitação, Ivelise Longhi, à Rede Globo, na qual afirma que
o EIA/Rima é suficiente para avaliar se o espaço hoje destinado
à proteção do meio ambiente pode ou não ser ocupado para fins
comerciais e residenciais, inclusive com a construção de prédios.
DESCONHECIMENTO
Declaração semelhante já havia sido dada pela presidente do
Instituto de Planejamento (IPDF), Eliana Klarmann, e pelo presidente
do Instituto do Meio Ambiente (IEMA), Fernando Oliveira. A secretária
de Habitação foi procurada ontem pelo Correio Braziliense para
comentar o assunto mas sua assessoria de imprensa informou que
ela estava fora de Brasília, com os telefones celulares desligados.
Professora da Universidade de Brasília, Jeanine Felfili, engenheira
florestal com doutorado em meio ambiente na Universidade de
Oxford, contesta a informação dos técnicos do GDF. ''Não se
pode nem pensar em EIA/Rima, - que é um levantamento menor,
localizado e voltado para justificar empreendimentos - como
alegação para passar por cima de três legislações ambientais
que protegem a área'', explicou. ''Na melhor das hipóteses,
isto demonstra um profundo desconhecimento da legislação ambiental''.
De acordo com Jenine Felfili, o Park Way está localizado na
reserva da Biosfera do Cerrado, criada por um acordo internacional
firmado entre o governo local e a Unesco (Fundo das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura). Além disso, está compreendida
entre a Área de Proteção Ambiental (APA) Gama-Cabeça-de-Veado
e a Arie (Área de Relevante Interesse Ecológico) da Capetinga-Taquara.
Na semana passada, a associação de moradores protocolou uma
ação na Promotoria de Meio Ambiente (Prodema) para exigir do
governo que promova o zoneamento da APA, que é um estudo profundo
de todas a composição do ecossistema da região.
O Park Way abriga córregos e nascentes que ajudam a formar a
bacia do lago Paranoá. As áreas verdes são importantes espaços
para a infiltração da água da chuva e o reabastecimento dos
lençóis freáticos da região. Estudos do Instituto de Geociências
da Universidade de Brasília (UnB) apontam que, se não forem
criadas zonas de proteção para os mananciais subterrâneos, essas
minas d'águas podem sumir do mapa hídrico do Distrito Federal
em, no máximo, dez anos.
ÁGUA
Segundo
o professor José Elói Campos, do curso de Hidrogeologia da UnB,
a urbanização de 200 novos lotes no local, de 20 mil metros
quadrados cada um, vai dificultar a absorção das águas das chuvas
e acelerar diminuição da vazão dos córregos da região, como
o Gama, que abastece boa parte da população do Park Way. Segundo
os moradores, a vazão dos córregos Mato Seco, Cedro e Vicente
Pires vem diminuindo sensivelmente.
Vários afloramentos, como a lagoa formada junto à quadra 16
pelo Córrego do Seco, já não existem mais. Na Reserva Ecológica
do IBGE, os pesquisadores da UnB já constataram a falta de água.
Na última seca, pela primeira vez o Córrego do Roncador secou.
Também secaram alguns outros córregos da bacia do Taquara, que
é afluente do Ribeirão do Gama, localizados na reserva. A associação
dos moradores se reunirá novamente esta semana, na quarta-feira
à noite, para avaliar o que se fará daqui por diante.